terça-feira, 5 de junho de 2012

JUNDIAÍ E O IMPRESCINDÍVEL: A ARTE DE CRIAR SONHOS

Quantas palavras podem descrever um sonho? Eu lembro que quando coloquei meus pés aqui pela primeira vez, senti o coração palpitar muito mais do que em qualquer momento antes, em minha vida. Meus pés tocaram o chão em busca do que é novo, minhas narinas sentiram novos ares, e uma nova conquista. Era o início de um novo caminho. Em silêncio, começava mais uma batalha por meus próprios sonhos. E agora, estou aqui escrevendo para o jornal do grêmio. Dias, anos, me separam daquele dia chuvoso. Era 16 de fevereiro de 2009. Mas as teclas frias e o brilho fantasmagórico do monitor não são o bastante para me fazer esquecer a memória.


Quinze camas, quinze companheiros, e eu praticamente não conhecia ninguém, mas eu parecia confiante, eu parecia firme. Parecia. Meus braços estavam pesados, eu sabia que estava pronto para começar mais uma jornada, mas meu coração havia ficado em casa. Na verdade, ainda me sinto assim vez ou outra, tantos anos depois, tantas emoções depois. No escuro do dormitório, naquele dia fatídico, uma frase brotou em minha mente. “Este lugar eu tenho de chamar de lar... E esses aqui vão ser meus irmãos, vão ser meus parentes, e vão ser meus amigos.” Eu disse para mim mesmo. Eu disse, sim, eu disse. Eu estava certo.

Jundiaí se mostrou uma nova casa. E eu aprendi a mudar por ela, e por aqueles que estavam ao meu redor, eu aprendi a buscar o meu melhor, sempre, ainda que acabasse ferindo aqueles que estivessem ao meu lado, vez ou outra.

Espero que até agora, você, leitor, não esteja preso à idéia que meu texto é insignificante. Estas linhas toscas e mal feitas eu dedico para os sentimentos íntimos de vocês, que sentiram como eu, de uma forma ou de outra, o frio percorrer sua barriga no começo de um novo caminho, de uma nova jornada, da estrada tortuosa (ou maravilhosa?) que começa em Jundiaí e termina Deus sabe onde. Eu lembro que no começo eu perdia o fôlego por tudo, e me repreendia por todo erro, mas os anos libertaram o que estava preso nos meus pulmões, e eu pude respirar livre, sensatamente, e então, eu vi que Jundiaí havia me ensinado o que escola nenhuma do mundo ensina. 

Lembro-me das vezes em que levantei as mãos para o céu e pedi ajuda, questionei o motivo da dificuldade, mas hoje, eu aprendi a juntar as mãos para falar algo diferente. “Senhor, eu simplesmente não me importo, eu tenho o amor que vai me fazer superar, eu tenho com quem contar.” E essa foi a maior lição que eu poderia aprender. Álgebra e trigonometria não compensam os amigos que eu conquistei. Fruticultura e suinocultura não produzem afeto e confiança. Gramática e genética não explicam as matizes do amor, da amizade, da cumplicidade. Nenhum conhecimento contido em livros é o bastante para expressar o que somente o cotidiano, a vida, e a convivência podem ensinar. Eu aprendi a amar.

No final, a saudade da comida de casa, a falta do conforto do quarto e a ausência dos pais e dos amigos foram apenas detalhes. Aprendemos a amar Jundiaí e as pessoas que estão nela. De uma forma estranha, estamos todos inseridos nesse mesmo sentimento, mais forte em uns, mais fraco em outros, mas ainda assim, essencialmente o mesmo. E agora, eu ainda lhe pergunto.

Quantas palavras podem descrever um sonho?

TEXTO ESCRITO POR RAUL RODRIGUES
Ex-integrante do Jornal Escolar "Jovens em Ação"

1 comentários:

DCE - UFRN disse...

Muito bom o texto. Parabéns.

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